domingo, 4 de setembro de 2011

Alley

Eu não sabia, mas acabaria ficando com um bichinho de cada local que ajudei. Começou com o Alley... Morava num terreno imundo com uma mulher miserável que ganhava algum dinheiro como “lar temporário”. É muito difícil conseguir lidar com essas pessoas, então aquele lugar se transformou num verdadeiro depósito de animais e as pessoas sérias que queriam ajudar não davam conta dos animais e das doenças que proliferavam pela falta de higiene e cuidados. Foi uma luta...


 Ele era aleijado, deve ter sido atropelado e a pata ficou torta por não ter sido socorrido. Sua história é incerta, já que a tal mulher era, além de suja, mentirosa. Vivia preso numa corrente, lembro de ir lá ajudar a dar comida e um pouco de atenção pros coitados que lá “viviam” e ele puxar o chaveiro do meu bolso. Um dia eu insisti e o levei pra casa, magro, com giárdia, pavor de vassouras... Ficou imenso, parecia uma mesa de centro! Mesmo assim não arriscava e dormia ao lado do comedouro, traumas de quem já passou muita fome...


Alley viveu sua vida e um linfoma foi o responsável pelo seu fim. Na verdade, a boa morte teve que nos visitar mais uma vez quando Alley não quis mais comer. Ele, o fominha, que dormia ao lado dos comedouros e os mastigava quando não estava comendo para evitar que outros cães se aproximassem e roubassem sua comida, não queria comer? Sabia que era o fim e não podia deixá-lo sofrer.
Certos dias, no meio da latição, tenho a impressão de ouvir o seu latido, mas quando me viro para pedir que pare de latir, ele não está lá. Saudades do meu Alleychato...

terça-feira, 14 de junho de 2011

Skipmóvel

Meu brinde de terceiro mutirão de castração. Aliás, esse mutirão rendeu! Dele veio a Summer também. Ele veio seguindo uma senhora que estava levando alguns animais pra castrar. Sem coleira ou guia, chegou chegando, correu de um lado pro outro na escola, latiu pros cães e pros gatos que aguardavam o momento da “mutilação”! Como naquele dia o mutirão era da prefeitura pedi uma vaga para ele, afinal vivia solto pela cidade e perpetuando a espécie. Consegui e colocamos nele a ficha com o número pra ser chamado pra pesagem e pré-anestesia. Ficou o tempo todo lá na escola, sumiu minutos antes do seu número ser chamado. Paciência... Depois do almoço, quem chega chegando? Ele! Sem a ficha no pescoço, claro. Dessa vez fui mais esperta que ele e o tranquei em uma sala. Finalmente foi castrado. Acordou da anestesia, comeu o que sobrou do almoço e no fim da tarde, já bem acordado, seguiu seu caminho. No dia seguinte, quase no fim da tarde do último dia de mutirão quem chega chegando? Ele! Ficou por lá, disse oi pra todos, inclusive pro veterinário que arrancou suas bolas! Fim de mutirão, todos guardando as coisas, arrumando a escola, limpando e ele lá esperando. Os vets e voluntários vão embora, eu, minha mãe e algumas protetoras da cidade estávamos terminando de organizar tudo. Ele sentado na calçada observando a movimentação e as pessoas indo embora, sempre olhando com cara de coitado: "Vocês vão me deixar aqui? Já fui castrado, posso ser adotado!". Não pensem que não tenho coração, ir embora e deixar o pobre animal lá, sem casa, sozinho, à mercê de todo tipo de crueldade! Se eu pudesse pegaria todos, mas não posso! Enfim, ia ser a última a entrar no carro e fui surpreendida antes que eu pudesse fazer qualquer coisa. Como ninguém se manifestou ele mesmo resolveu a situação: não foi adotado, me adotou! Entrou no carro correndo e se instalou como co-piloto. Tudo bem, pensei em deixa-lo dar uma volta de carro, logo ele desiste e segue o seu caminho. Paramos mais a frente e ele desceu do carro. Fui embora, minha mãe me seguindo no outro carro. Ele gostou do passeio. Saiu correndo atrás do meu carro. Parei e o deixei entrar novamente. Uns quarteirões pra frente eu o deixei sair de novo. Fechei a porta e fui indo embora. Mesmo com pouquíssimos carros na rua ele quase foi atropelado. Nesse momento, eu não sabia, mas minha mãe já estava gritando no carro pra eu pegá-lo logo! Eu tentei, mas não consegui. Parei e abri de novo a porta. Ele saltou no meu colo e fomos pra casa dos meus pais, ele no meu colo, quase dirigindo no meu lugar. Fui chorando, me perguntando porque isso sempre acontece comigo. Acho que nunca vou entender o porquê. Mãe, pai: dessa vez EU não tive culpa!!! Agora ele é o meu cachorro SKIP e eu sou sua dona CRIS.

 Skip é o co-piloto oficial. É quase impossível sair de casa sem ele. As compras dominicias feitas pelo meu pai sempre envolvem um carro e o Skip. Não importa qual carro. Cor, modelo, acessórios, nada disso importa. Ele só quer andar de carro. E sabe que é domingo, dia das compras, mesmo ser ter um calendário.


Situações inusitadas ocorreram por causa dele. Quem não se diverte com a cena de um cão descabelado no banco do motorista? Como diz meu pai: "se deixar a chave corro o risco de ele ir embora dirigindo". Uma vez, meu pai parou o carro numa praça no centro da cidade. Dois senhores tomavam sol e conversavam num banco, aquela coisa boa de se viver no interior. Skip estava apertado, precisava fazer xixi! Meu pai abriu a porta, ele correu até uma árvore, fez um xixi enorme e voltou correndo para dentro do carro. Os dois senhores se divertiram com a cena...

Essa mania de ficar no carro já o colocou em situações difíceis. Quantas vezes horas depois de chegar em casa alguém pergunta: cadê o Skip? Resposta: no carro! E vocês acham que ele está lá enlouquecido, desesperado para sair? Que nada, dorme horas e horas no conforto do banco.


Dias de chuva também são complicados. A terra vermelha de Tatuhy não ajuda, assim para evitar que os bancos do carro fiquem cheios de lama meu pai desenvolveu um verdadeiro ritual para limpar as patas do Skip. Antes de abrir a porta do carro ocorre uma dança, Skip rodopia de felicidade e acaba limpando suas patas no chão antes de entrar no carro. E na hora de sair do carro? Só pela porta traseira, nunca pela dianteira. Afinal, cães da alta sociedade canina com privilégios precisam de, no mínimo, um motorista particular!
 

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Simon's song

 
The book is on the table
 But I'm feeling your love
What's your name?? I don't know
Because my dog ate, my homework
Listen, the baby is crying
Inside in my mind


There's nothing left to lose
The color and the shape...
I like lemon, I like lemon
I Like lemon and drink, Flying Horse


 Let's talk about feelings
And talk about your feet
I caugth two chairs, and go away,
For hunt rabbits, every day


A day in the life, a day in the night
A day in the light, a day in the box
 

And I lost my Simon's CD
And you lost your head for me...
 

I like lemon, I like lemon
I like lemon and drink, Flying Horse.
I like fishing, I like fishing
I like fishing and listen, Simon's Song...
Simon's Song
Simon's Song



Simon é como esta música do Cueio Limão. Confuso, sem sentido, bizarro...

O nome dele não veio desta música, ele é mais velho que ela. Achei que Simon era um bom nome para um gato siamês vesgo e extremamente atrapalhado. Simon é estranho... Dá pra notar pelas fotos. Poses estranhas, situações inusitadas.


 Acho que nunca o ouvi miar... Ele não gosta de mim, apenas me tolera por eu completar os potes de ração, oferecer ProPlan, carne de latinha e por limpar as caixas de "areia". Quando está muito frio aproveita pra dormir perto de mim, mas nunca com muito contato. "Mantenho uma distância higiênica de humanos" ele diria.

Simon veio da pseudo-vet de Tatuhy. Eu o tirei de lá para doá-lo. Se não o tivesse tirado seu destino seria a morte. Não sei de fome, sede ou ambos. São tantas histórias que não me lembro se foi ele que nasceu de uma gata preta... Se assim o for, Simon é um falso siamês. Importa? Nem um pouco. É um gato. Gatos têm bigodes, ronronam, brincam com bolinhas e destróem caixas de papelão. Gatos comem ração, se lambem e fazem necessidades na caixa de areia. Sejam de raça, mestiços ou vira-latas.

Um adotante queria o gato para um apartamento no quarto andar sem telas. Simon conseguiu se perder e entrar na casa dos chatolinos dos meus vizinhos em SP City, imagine o que faria num apê sem telas... Ficou uma noite perdido. Pela manhã a vizinha tocou a campainha pra devolver o gato que ela achava que seria meu. Claro que era. Mesmo quando não são meus, serão. Destino. "Estava dormindo no meu sofá" ela disse. Simon você errou de casa!

Como toda boa mãe dei-lhe umas broncas: Como você sai sem avisar? Não faça mais isso!

E o abracei bem forte, exatamente do jeito que ele odeia.
Neste dia, quem ronronou de felicidade fui eu =^.^=

terça-feira, 26 de abril de 2011

Tiragatos

Esta postagem está atrasada, deveria ter sido feita dia 21 de abril. Um ano atrás, 21 de abril de 2010, o feriado de Tiradentes foi alterado para Tiragatos. Neste dia houve um grande êxodo felino de São Paulo-SP para Tatuhy-SP. Foram 137 km de viagem para 26 felinos acomodados em 8 caixas de transporte de materiais e tamanhos variados e 2 bolsas de transporte. Toda a logística da migração foi cuidadosamente estudada. O perfil psicológico de cada felino foi considerado nas combinações para a viagem.

Meus 26 felinos se mudaram para sua nova casa. Tudo bem, eu "comprei" a casa, mas ela na verdade é deles. Telas foram colocadas nas janelas, um muro razoável e outras telas os deixariam a salvo de sua curiosidade. Exatamente como manda o figurino.

Não que eles tivessem uma vida ruim em São Paulo, mas o aumento da família exigiu acomodações mais espaçosas e uma caixa de areia maior.

Obviamente eles não gostaram da mudança. Mesmo deixando as caixas disponíveis para reconhecimento alguns dias antes da mudança, na hora de entrar pra valer foi um desafio. Cobertores e catnip não ajudaram muito. "Pra onde estamos indo?" "Você vai nos abandonar?" Com certeza se entendesse miados seria isso que estariam dizendo.

Chegar na nova casa também não foi algo agradável. A casa ainda estava vazia, sem móveis, exceto por um beliche com colchões para recebê-los. Na viagem, por incrível que pareça, também foram todos os comedouros, bebedouros, brinquedos e as caixas sanitárias. Não, eu não tenho um ônibus... Isso torna o processo de descarte do meu bólido sujo, velho e arranhado ainda mais doloroso. Apesar dos gastos com consertos, mantenho meu ideal de usá-lo até o fim, por questões ambientais, financeiras e sentimentais - são muitas memórias caninas e felinas revividas a cada quilômetro rodado...

A primeira semana foi passada dentro do quarto e escondidos no beliche, mesmo que a porta ficasse aberta. Olhos arregalados, orelhas atentas a todos os ruídos daquele local estranho. Os dias foram passando e alguns passos além dos potes de comida começavam a ser dados. Logo estavam tomando sol nas janelas, mantidas abertas o tempo todo.


Sim, eles têm um ursinho e nele está escrito "I love you". Eu ganhei o urso para um bazar e, por estar sujinho, dei para meus gatos. Faz sentido, pois eu os amo muito =^.^=

A saída para o quintal ainda demorou um tempo. Precisavamos ter certeza de que as telas eram suficientemente seguras.


Jimmy, um gato da minha tia, antiga moradora da casa e acostumado com a liberdade, se recusava a mudar de casa. Como minha tia se mudou para a outra quadra ele fugia e retornava à antiga casa. Detalhe: pulava muros de mais de 2,5 m de altura para retornar. Mais algumas telas foram colocadas para manter Jimmy na sua antiga casa. Além de correr riscos andando por aí estava ensinando meus gatos a fugir. Foram tantas fugas inacreditáveis que alterei o nome de Jimmy para Houdini.


Sim, é pra ter medo, Houdini é muito mau... Adora uma briga...

Os grandes fujões de São Paulo, Vanilla e Socks, nem pensaram em fazê-lo na nova casa. Algumas maçanetas tiveram suas posições alteradas para impedir que Socks as abrisse. Sim, meu gato Socks pula exatamente na maçaneta e espera calmamente a porta abrir...

Móveis mais velhos e coisas sem uso foram sendo levadas para a casa dos gatos. A mesa de ping-pong, uma outra cama, uma cadeira, uma geladeira e um tanquinho. E, claro, caixas de papelão, principalmente de "cuecos", o biscoito preferidos dos cães na falta de Biscrok.


Uma rede foi instalada e era possível encontrar gatos dormindo nela.


Era possível, atualmente ela está desativada por causa do Stolen, um intruso na casa felina que está na fase de destruição máxima. Stolen é um cão, um ser inferior segundo os gatos.


Uma prateleira num local elevado foi colocada, permitindo que os felinos apreciem a vista aérea do local e sintam-se superiores aos cães. April, Peter, Meguinho, Melanie, Stolen e Magoo são cães e moram no quintal da casa dos gatos. Não é raro encontrar um gato se aproveitando do calor canino, ou cães e gatos compartilhando o sol da manhã.



Uma escada usada para trocar uma lâmpada logo se tornou um local muito procurado. Foram tantos pedidos que foi deixada para eles.


Algumas melhorias têm sido feitas, logo será possível considerar esta simples casa um verdadeiro "resort" felino! Como os escravos-humanos não podem satisfazer o tempo todo a necessidade que alguns gatos têm de beber água da torneira foi montado um dispositivo que engana alguns deles:


Alguns apenas, gatos de sangue azul como Maurice se recusam a beber água numa imitação de torneira. Maurice só aceita o original...


E ai de você se não fizer o que Maurice quer... Ele morde...

Troncos diversos também foram colocados garantindo momentos de diversão e "preco-preco", ou seja, afiação de unhas.


Também pode-se tirar um cochilo aproveitando os troncos e o contato com a Natureza:


A lista de exigências felinas é enorme, uma reclamação constante é sobre o elevado número de gatos por metro linear de tronco na hora do "rush"... Os congestionamentos estão se tornando frequentes...



Providências urgentes serão tomadas!

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Um dia eu fui um Brutus...

Ele foi o culpado pela minha queda por cães da raça doberman. Como amei esse cão, como sinto sua falta...
Sempre passo a maior parte das minhas férias de julho no interior. Saindo do terreno, que tenho só para colocar meus cachorros, e indo pra casa dos meus pais na outra quadra, vejo de longe um animal com dificuldade de andar, de porte grande, um pouco encurvado. Achei estranho e fui ver o que era, lógico que não ia deixar pra lá. Quando cheguei perto ele já tinha caído no chão. Era um dobermann preto, completamente desnutrido, sem forças pra continuar andando. Tinha feridas pelo corpo, talvez de brigas com outros cães no tempo em que ficou na rua. Cheguei a pensar que ele tinha alguma doença muito grave e que estava em estado terminal. Cogitei a eutanásia para aliviar o seu sofrimento se esse fosse o caso. Eu o prendi numa cerca, um vizinho colocou água e lhe deu uns pães, que ele devorou e vomitou logo em seguida de tão rápido que comeu. E comeu o que tinha vomitado...

 Fui pra casa, peguei o carro, o coloquei no porta-malas e fui até um vet. Um cão velho, judiado, mas sem sinal de doenças ou problemas sérios. O que ele me pediu pra fazer? Dar comida! O problema dele era fome, pura e simplesmente. Estava com uma infecção intestinal, provavelmente por ter comido lixo, mas isso era um nada perto da fome que ele tinha.


Eu o chamei de Brutus. Era grande, assustador, mas um ser inofensivo. Não enxergava direito, vivia latindo pras paredes... Talvez tivesse sido um Brutus quando jovem. E ele comeu, comeu, comeu e comeu mais um pouco. Coloquei sua história no site da Cia. do Bicho. Muitas pessoas maravilhosas o ajudaram. Ele ganhou petiscos, ração, cobertor, coleira, Biscrok, ah, como ele adorava os Biscroks...


Acredito que ele era cão de guarda, daqueles que ficam presos grande parte do dia e são soltos a noite. Isso porque no começo, mesmo tendo espaço, ele ficava escondido na casinha. Só depois de um bom tempo começou a sair e tomar sol deitado na grama. Um dia, pra dar banho nele, eu o prendi numa corrente. Ele aceitou, nunca se mostrou agressivo comigo, mas começou a morder a corrente. Por isso acho que ele vivia preso num cubículo. Eu pude dar a ele nove meses de vida boa. Ele já era velho, sabíamos que um dia ele nos deixaria, mas não pensávamos que fosse tão cedo. Um dia de manhã o encontramos morto na grama. Meu pai o enterrou debaixo de umas árvores, lugar em que sempre o víamos descansar. Ai, que saudades do meu BruBru...

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Oswaldinho Cruz-Credo - Parte 2

Oswaldinho resolveu encrencar com os meus gatos. Queria matá-los. Latia, perseguia, fazia tudo que não poderia fazer. A saída foi levá-lo para Tatuí, nessa época já castrado e um pouco mais calmo. A única coisa que me ocorria era que ele era bipolar, não havia outra explicação! Em um momento queria te morder, alguns segundos depois estava no seu colo te dando beijos... É por isso que sou contra a mistura de raças e a criação de cães por pessoas leigas e que visam apenas o lucro. Por que nascem cães com problemas, distúrbios de comportamento. E aí ninguém os quer! Como o Oswaldinho, jogado fora, com raiva de mulheres que portavam rodos e vassouras.
A estadia de Oswaldinho em Tatuí foi terrível. Ele não aceitou os demais cães, se isolou no canil, virou um bicho do mato. Sua imunidade caiu, ficou descabelado, pegou sarna e uma baita gripe canina. Enlouqueceu. Ele queria mesmo é entrar no carro, era como se dissesse “tirem-me daqui!”. Um dia seu sonho se realizou. Eu o trouxe pra São Paulo novamente, precisava dar todos os remédios para a tosse de cachorro que ele pegou. Aqui novamente os problemas com os gatos. Só sobrou um lugar não povoado por animais para ele: a garagem. Ele amou. Ficar perto dos carros era um sonho que se realizava. Sozinho, com sua caminha, seu pote de comida e ninguém por perto ele se acalmou. Virou nosso amigo. Quero dizer, exceto quando ele está com um biscrok ou osso, porque nesses momentos ele nos atacava. Eu sempre dizia a ele que se eu acabei de dar o petisco, porque tiraria? Ele não acreditava, preferia rosnar e me morder se eu me aproximasse demais. Oswaldinho é bipolar, não há dúvidas.

Na garagem ele fez amizade com o carteiro. Comeu nossas correspondências, levando o que sobrava para sua cama e dormindo em cima dos restos. Ele também aprendeu a sair quando eu chegava de carro, fazer seu xixi na árvore e entrar rapidamente no carro, ficando no meu colo enquanto eu terminava de manobrar. Ele escolheu essa vida e eu gostava de chegar em casa e encontrá-lo. Sempre me ajudando a manobrar e aguardando a sua recompensa, como um flanelinha: o biscrok. Este é o Oswaldinho e esta era a sua vida até o dia de uma grande crise bipolar. Oswaldinho saiu para seu xixi na árvore e atacou o rottweiler do vizinho, que saia para passear com seus cães. Foi o primeiro grande evento de 2010. Eu estava em Tatuí para o 8o. mutirão de castração e meu pai tinha ficado com a responsabilidade de cuidar dos bichos da capital. Jogaram água nos dois e o rott o largou. Totalmente fora de si, Oswaldinho entrou na casa do vizinho e foi até o fundo da mesma. Mordeu a mulher do vizinho, meu pai e só meu irmão conseguiu resgata-lo com um enorme pano. Tudo que meu pai menos desejava aconteceu naquele momento. Todos os outros vizinhos saíram de suas casas para saber o que havia acontecido. Um outro vizinho até ofereceu a consulta com seu veterinário para avaliar o estado de saúde dele, mas não havia cortes ou machucados. Difícil de acreditar como ele saiu ileso desta. Talvez o rott tenha se assustado mais que ele, ou o gosto era bem ruim, afinal ele estava sujo e parcialmente tosado. Parcialmente? Sim, eu não consegui tosa-lo. Ficou horrível. As patas e o focinho ficaram com pêlos compridos. Só consegui tosar o corpo. Foi uma época difícil, com muitos gastos com outros animais e a compra da casa da minha tia para acomodar meus gatos. Resolvi, então, que eu mesma tosaria meus bichos, ainda mais depois de ser cliente de pet shops que me davam brindes como os five dogs. Oswaldinho foi o único que não consegui tosar...
A odisséia de Oswaldinho ainda não terminou. Depois do incidente com o rottweiler do vizinho decidimos que a garagem na casa de São Paulo não era o ideal para ele. Como ele gostava do carro tentamos a garagem na casa em Tatuí. Oswaldinho passava horas embaixo do carro e ficava enlouquecido quando o carro não estava lá. Certo que ele gosta do carro, mas o verdadeiro motivo era o Harvey, o boxer branco. Apesar do tamanho Harvey é um bom camarada. Um boxer branco cercado de cães com cerca de 1/5 do seu peso? Ele poderia muito bem acabar com todos eles... Na verdade Harvey gosta de todos eles e eles gostam do Harvey. Menos o Oswaldinho. Ele sentia prazer em provocá-lo, algo que não é muito inteligente, convenhamos. Você franzino, menos de 10 kg, fraco, boca e dentes pequenos mordendo o calcanhar de um boxer branco, forte, quase 40 kg e com uma boca e dentes enormes? É Oswaldinho, se não tivéssemos tirado você da garagem um dia Harvey poderia se encher e acabar com você.
Atualmente Oswaldinho vive com Pupi, a puda cega. Cada um na sua casinha e com o seu pote de ração. Oswaldinho ainda continua bipolar e gosta de nós em alguns momentos enquanto nos morde em outros. A pior parte é que eu gosto dele, mesmo com esse gênio, digamos, do cão!





sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Oswaldinho Cruz-Credo - Parte 1

Era apenas mais um dia de trabalho. Sempre achei que estaria a salvo pelo menos no local de trabalho. A salvo de encontrar animais. Depois do Oswaldinho vi que estava completamente enganada. Ele seria apenas um dos animais que surgiriam através das Faculdades e da Escola Técnica Oswaldo Cruz.
Lembro-me que era uma terça-feira. Após o intervalo, que passávamos enfurnados no laboratório de química, peguei meu material e estava indo até a sala de aula. Passei por uma aluna, que disse haver um cão dentro da sala de aula. Não dei atenção. Considerei comentário tolo de aluno. Na porta havia uma aglomeração. Quando consegui entrar vi a cena. Dois seguranças, uma fita zebrada no lugar de um laço, com diâmetro suficiente para laçar um elefante. Um cão cinza, tosado, de gravata e desesperado fugindo do enorme laço. “Ele quer nos morder”, disse um dos seguranças, como se estivesse diante de um animal feroz e absurdamente perigoso. Um aluno chegou a dar um enorme beliscão nas costas dele, que gritou de dor e ficou de barriga pra cima completamente sem ação de tanto medo por alguns segundos. Neste momento eu perdi a calma e o ameacei “Se você fizer isso novamente eu acabo com você!”. O pobre animal estava sendo laçado, estava desesperado e ainda tinha que ser mal tratado? É demais... Finalmente eu me aproximei e o peguei, ele deixou. Tremia muito. Os seguranças, completamente desnorteados, só conseguiram balbuciar algo do tipo: “como você o pegou?”, como se eu tivesse feito algo absurdamente difícil e impossível...  Disse a eles que ficaria com ele. Eles adoraram a idéia, menos trabalho pra eles, que teriam que voltar com aquela fera nos braços até a portaria e atira-lo na rua, local de onde veio. Só que eu precisava dar aula, como ia fazê-lo com ele no colo? Levei até o laboratório. Ao entrar meu chefe me perguntou se eu tinha trazido um cão para o trabalho. Não tinha, ele apareceu. E rapidamente contei a história. O cão ficou trancado numa sala no fundo do laboratório. Logo a história se espalhou. “A Cris deixou um cão na salinha”. E lá vai todo mundo ver. Ele aguardou até o fim das aulas e nos presenteou com pequenas poças de xixi. Hora de ir, mochila nas costas, ele no colo e os diversos comentários dos professores da faculdade, gente de alto nível com salários muito maiores, boas vestimentas e carros novos e limpos. Sem arranhados, claro. E lá fui eu pra casa com aquele cão.

Ao chegar, mais explicações. Agora para minha mãe. “De onde veio isso?”. Fica até difícil de acreditar quando se tem uma filha protelouca. Ainda mais com uma história tão inusitada.
Os primeiros dias foram difíceis. Ele aguardava alguém chegar, ficava sempre atrás da porta, era muito triste. Notávamos que não gostava de mulheres, queria mesmo era ficar com meu irmão, que não lhe dava muita atenção. Aí começaram os problemas. Ele odiava vassouras e rodos. Em muitos momentos não podíamos varrer a casa, ele nos atacava. Sim, “nos” corresponde a nós (eu e minha mãe) e à vassoura e ao rodo. Só gostava do meu irmão. Ele nos mordeu várias vezes. Eu cheguei a pensar em eutanásia. Ele não parecia confiável e, apesar do porte pequeno, mordia pra valer. Lógico que só pensei, não teria coragem. O nome Oswaldinho veio naturalmente. Era inevitável. Até tentei algo um pouco mais chique, como Oswald, mas não pegou. Com o seu comportamento logo virou Oswaldinho Cruz-Credo. Ele ficava de pé rosnando e mostrando os dentes para nós, o que também ajudou na escolha do nome composto.

Oswaldinho é feio. Pensei que seu pêlo cresceria como o de um shih-tzu ou lhasa apso, raças das quais imagino que seja mestiço. Não sei com o que, mas imagino que tenha algo de uma delas. Comecei a chamá-lo de chee-tos. Recebi muitos e-mails de pessoas interessadas em adotar chee-tos, yoki shires e outros. Não que quisessem o Oswaldinho, pelo contrário, queriam ter animais de raça, de graça, sem despesas e mal sabiam escrever o nome da raça. Triste, não é? Pior é que muitas vezes, além de não escrever corretamente, também não pronunciavam da maneira certa. O cúmulo foi receber um telefonema de uma mulher que queria uma lavadora. Neste dia eu não resisti. Mandei que entrasse em contato com as casas Bahia. Depois de anos na proteção animal sua tolerância chega a zero...

to be continued...

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Ruffus Ralf

O pedófilo novamente... Depois de sua prisão seus cães ficaram soltos no bairro. Comentaram que uma boa cristã, responsável pela manutenção dos cães dele, de vez em quando levava uns pães e bolachas velhos pra alimentá-los. É impressionante como as pessoas são boas. Eu sempre fico admirada – não no bom sentido – com estas atitudes. O destino dos demais é desconhecido. Sei que este foi visto pela minha mãe e tia, que tentaram passar remédio em sua orelha. E sumiu. Eu passei a semana trabalhando em SP em agonia. Onde estará este cão? Uma bicheira na orelha? Tudo que eu queria era limpá-la e salvá-lo. Meu desejo foi atendido. Sábado de manhã, eu estava a meia hora de Tatuí e ele apareceu. Dentro do tubo de escoamento de água da ex-casa da minha tia, vizinha aos meus pais e que eu havia recentemente adquirido para meus gatos. No meu tubo ele apareceu. Um trapo, magro, sujo, espalhando larvas por todo lado ao balançar a cabeça. As larvas comeram grande parte de sua cabeça. O cheiro era insuportável, de podre.


Ele tinha fome, comeu ração seca e carne de latinha. Havia esperança. Fui direto pra agropecuária e comprei os remédios. Eu não podia gastar mais dinheiro. Não tinha. Depois de todos os gastos com o Scott, Magoo, Tess e todos os outros! Também não podia abandonar o pobre cão e deixar as larvas terminarem o banquete. Completamente falida e com todos os remédios necessários iniciei o processo de remoção manual das larvas. Não tinha fim, a pinça ia bem fundo e voltava cheia deles. Eu fazia umas pausas, o cheiro era insuportável e a cena nada agradável. Quando voltava encontrava várias larvas em volta dele. E vazava um líquido, fazia até “splosh” quando se apertava as regiões próximas à bicheira. Algumas horas depois, um banho se fez necessário. Foi bem difícil ficar com ele dentro do banheiro com a porta fechada. Se não houvesse uma platéia desesperada por notícias do lado de fora teria sido bem mais fácil. Mas meus cães são leitores assíduos de “Faros”, a versão canina de “Caras”, e eles sabem que eu sempre trago quentinhas de primeira.


Após o banho ele ganhou uma caixa de papelão de coquinho, o biscoito mais consumido em Tatuí por causa dos meus cães, o substituto de Biscrok, racionado em tempos de vacas magras. E dormiu protegido, aquecido, medicado e minimamente limpo. Eu passei o dia ingerindo a deliciosa solução aquosa de ácido fosfórico, que os não-químicos chamam de Coca-Cola. Depois de tantas larvas não conseguia comer.


Tinha quase certeza que ele não aguentaria. Já estava conformada que era melhor morrer aquecido e não num tubo ou jogado à míngua. Mas ele aguentou. As larvas se foram e o Furanil com açúcar fez o seu papel. Em uma semana o buraco era mínimo. Ele se lembrou de mim, mesmo sem ter me visto durante esta semana. Pulou, chorou, grudou em mim como se fosse meu desde filhote. Mais uma semana e não havia mais buraco! Só existia uma anemia absurda. A gengiva dele estava combinando com seu pêlo branco. Só pode ser doença do carrapato. Eu mesma tomei a liberdade de medicá-lo. Mais uma pequena fortuna deixada na farmácia. Um mês depois ele tinha pêlos em sua cabeça novamente e uma gengiva corada! De início seu nome era Goiabão, muito adequado, é certo, mas de extremo mau gosto. Goiabão foi substituído por Ruffus. Ruffus é um Frodão, primo da minha querida Frida. Seu olhar expressivo me traz lembranças dela, mas não mata as saudades que sinto. Ruffus me enche de amor e gratidão, como só os cães sabem fazer. E, como disse meu pai: de todos os seus cães, ele é o mais legal. Ele tem razão.
Sei que algumas pessoas do bairro perguntaram dele. Queriam saber o destino do cão do suposto pedófilo. A Bete fez a parte dela, disse “deve ter morrido por aí, coitado”. Sempre tive medo que o dono retornasse e o quisesse de volta. Eu não queria devolvê-lo! Um dia ouvimos alguns comentários. Ruffus chamava-se Ralf e seu dono, após ter saído da cadeia, foi morar em São Paulo e se enforcou. Nunca o procurou, nem voltou para saber dele. Sorte minha.