sábado, 12 de julho de 2014

O cão que latia "nunca"

Era uma vez um pseudo-pinscher que latia "nunca".
Ele parou na frente de uma escola numa cidade com terra vermelha.
Ele era uma ameaça a todos que passavam perto dessa escola na cidade com terra vermelha.
Chamaram a carrocinha inúmeras vezes.
Mas como se pode viver na cidade com terra vermelha com nossas crianças sofrendo ameaças de um pseudo-pinscher que latia "nunca"?
Apareceu uma protelouca, que teve o azar de ir morar na cidade com terra vermelha.
Capturou a ameaça pseudo-pinscher que latia "nunca".
Xingou os humanos que trabalhavam na escola da cidade com terra vermelha e levou a ameaça para sua casa.
Seu pai o chamou de NEVER.
Você gosta dessa cidade? NEVER
Você gosta de humanos? NEVER
Você gosta de mim? NEVER
Você gosta da comida, da água fresca, da casinha e dos seus amigos caninos que não latem nunca? ... (gosto do Oswaldinho, gosto das garotas, odeio o Ruffus)
Você gostou do leitinho do Michael Jackson no dia da sua castração? ... (adorei)
Você quer voltar pra esse planeta azul miserável mais uma vez? NEVER
Lembre-se de sempre latir NEVER quando algum deus pagão quiser que vc retorne, ok? ... (pode deixar)
Você vai esperar por mim? NEVER!
Te amo mesmo assim!
NEVER!



quinta-feira, 12 de junho de 2014

Brontë, aka Fransolina

Todo mutirão é uma loucura. Sempre tem animal de rua pra capturar e levar pra castrar. Isso, além das tarefas da organização e solução de problemas, que devem ser cumpridas. Nunca tem voluntário suficiente, quando tem as buchas sempre sobram pra mim. Eu queria mudar de nome nesses dias!

Eu vi a cadela no cio, logo que sai do bairro, lá em Tatuhy. Como esse tal senhor, que parecia se importar tanto com os animais, morava bem perto, pediram a ele que a capturasse. A ideia é castrar, o que fazer depois? Isso, como já estava na pergunta, fica pra depois. Deixar uma cadela cruzando enlouquecidamente nas ruas para parir nas mesmas ruas 2 meses depois? Sem chance.

Ele a capturou e levou até o mutirão. Ela foi castrada. Por mais que a gente fale, nunca volta pra rua. Mas, esse senhor, que parecia se importar tanto com os animais, ofereceu sua respectiva casa pra que ela não voltasse pra rua. Aceitamos.

Uma semana depois, ouço barulho de carro velho. Era exatamente esse senhor, que parecia se importar tanto com os animais, com a cadela debaixo do braço. "Ela briga com os meus, se você não ficar vou jogar na rua". Meu ódEo no nível máximo, sangue em ebulição. Alguns anos atrás eu ainda me controlava. Não xinguei. Imaginei a cena, ela na rua, bem em frente à casa dos meus pais. Claro que na frente da casa dele não ia jogar. Claro que eu, imbecil como sempre fui, peguei a coitada. Coloquei com George, o labrabull com distúrbios e potencialmente assassino, e Lela, a que sobrou de outro mutirão, que morava no mercado e tinha tudo pra morrer de cinomose. Não morreu. Se amaram. Por ter conquistado George, chamei-a de Brontë, como no filme com Gérard Depardieu e Andie MacDowell. Meu pai preferiu chamar de Fransolina, em homenagem ao abandonador.



Brontë nunca brigou com outro cão, é inofensiva. Mentiroso!

Mas Brontë esporadicamente tem ataques epiléticos! Vai viver na rua? Vai ser colocada em qualquer canil para que os outros animais a ataquem? George e Lela NUNCA chegaram perto dela durante os ataques. Outros cães atacariam.

Esse senhor, que parecia se importar tanto com os animais, chegou a ir mais umas duas vezes aos mutirões, até eu expulsá-lo de lá. Sim, eu, a sargento, mandei embora. Logo suas intenções ficaram claras. O aumento da divulgação de casos de atrocidades com animais, aliado ao fato de muitas pessoas realmente se importarem com eles, fez surgir uma leva de aproveitadores.

Aquela cara de velhinho coitado, magrinho, esfarrapado, tão franciscano, né? Sempre com o discurso de que ele não podia pegar um animal porque a companheira não deixava. Desmaiando de fome. Dizendo que gastava tudo que tinha com os animais. Digno de um Oscar e todos os demais prêmios.

Vejam, ele saiu do mutirão como o grande salvador dessa cadela. Só que quem terminou com ela fui eu.

Apenas o primeiro passo rumo ao seu grande objetivo, se eleger usando os animais. Sem ajudá-los. Empurrando para os outros, mas saindo como o grande salvador.

Apesar da aprência franciscana, esse senhor, que parecia se importar tanto com os animais, planejou cada detalhe da sua escalada ao poder.

Com meio milhão em dinheiro VIVO no banco, tudo fica mais fácil. Mais fácil ainda quando quem realmente se importa trabalha e se importa com os animais nada quer, além de aliviar o sofrimento deles. Nunca quisemos nada material, nem cargos, nem dinheiro.Voluntários dedicando seu tempo livre, tirando do bolso pra ajudar animais necessitados. Anônimos. Nada, além da satisfação de ter ajudado.

Fato é que Brontë, aka Fransolina, ficou conosco. Está com George e Lela até hoje. Formam o amarelil, canil dos amarelos, aquela cor de vira lata que mais tem nas ruas. Aquela cor que ninguém quer, só perdendo pros de pêlos pretos.

E o tal senhor, que parecia se importar tanto com os animais? Se elegeu, correu de mim numa manhã de sábado numa das praças da cidade. Ouviu todos os termos de baixo calão que eu conheço. Mudou seu projeto utópico pra qualquer porcaria que justificasse algo. Não fez P**** alguma. E agora? Quer ser deputado, ainda explorando os animais.

O que eu quero com essa postagem? Que algumas pessoas saibam a verdade. Pela Brontë, pelos animais que ele empurrou pra dezenas de protetoras. Por todos os machos que morreram à mingua nas ruas, brigando, doentes, porque ele não aceita a castração dos mesmos. Por puro machismo, o mais alto grau de ignorância que um homem pode ter.


segunda-feira, 21 de abril de 2014

Celebrando Tiragatos!

Quatro anos atrás, 21 de abril de 2010, o feriado de Tiradentes foi alterado para Tiragatos. Hoje, então, celebramos Tiragatos!

Numa cat house, alguns ficam na rede.


Outros preferem locais mais altos.



Temos locais com maior privacidade.


O contato com a Natureza é intenso.


Um banho de sol para diferenciar os felinos de pêlos pretos.


Queremos carinho, atenção e amor.


Troncos para preco-preco, aka afiação de unhas. Humanos chamariam de manicure?



É comigo?


Escrava-humana, te amamos pela comida que vc traz, pela limpeza das caixas, pelas fontes de água corrente, pelas bolinhas e brinquedos e pelas latinhas de ração úmida aos sábados a noite.



Poderia estar em NY ou em Paris, acabei em Tatuhy...

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Bandit, Fly e as Batatas

Assim como Babi e Murray, os borders-lata foram uma herança e tanto. Eu tentei. Fiz o possível para ensinar algo a uma pseudo-veterinária. Infelizmente, é mais fácil usar o trabalho alheio para se promover a ter que trabalhar duro. Foi isso que ela fez, usou os mutirões pra se promover. Dizia fazer as cirurgias, mas sequer chegou perto de uma lâmina de bisturi. Boas intenções não te transformam em protetor de animais, muito menos em médico veterinário. Uma faculdade também não, é muito mais que isso. No caso do Murray e da Babi, que eram de rua, posso até entender. Nos outros não. Vender animais de raça pra sustentar os outros é hipocrisia. Nem sei como classificar o ato de vender uns, dizer que sustenta os menos afortunados que na verdade morrem de fome, presos em canis e gatis imundos sem chance de escolha. Pior ainda é trocá-los por TVs e aparelhos de celular. Teriam os viras direito ao uso destes aparelhos? Bandit teria morrido, como praticamente todos os seus irmãos. Ele nasceu de uma escapadinha de cães de raça: é um vira-lata cujo pai era Blue Heeler e a mãe Border Collie. Bom, isso é o que diziam, pois alguns viras do canil tinham pedigree. Um papel que contém dados de responsabilidade do criador. Sem averiguação? Se for assim eu crio raças pra todos os meus!
Bandit e seus irmãos nasceram num saco de cal. Foi o único lugar que sua mãe encontrou e considerou seguro para aguardar a chegada dos seus filhos. Depois de nascidos a situação não melhorou muito. Viviam na sujeira. Um a um foram morrendo. Eu quis ficar com ele, sabia que não viveria se eu não o fizesse. Ele tinha 40 dias e ela dizia que ele era débil. Lerdo, alheio a tudo. Era um filhote estranho. Ele foi pra São Paulo no colo da minha mãe. O cheiro era insuportável. Urina e fezes. Assim que chegamos ele precisou de um processo de limpeza. O pêlo escondia a magreza. Era pele e osso. Tinha febre, altíssima. Pedi que me orientasse quanto ao que fazer. Receitou penicilinas. Quase 80 anos depois da brilhante descoberta de Alexander Fleming o mundo conhece inúmeros antibióticos, para as mais diferentes infecções. A que Bandit tinha não era suscetível a penicilinas. É lógico que ele não melhorava e os microorganismos que o parasitavam faziam a festa. Febre, anemia e carrapatos. Não é preciso muito para fechar um diagnóstico. Outro veterinário o fez.


Bandit não era débil, estava anêmico, quase não tinha mais sangue. Nem 45 dias de vida, febril, anêmico, vivendo na sujeira e tomado pelos carrapatos. Não bastasse isso ainda o chamava de débil e ria de seu comportamento. Felizmente, a doxiciclina salvou sua vida. Prescrita por outro veterinário. Bandit dava 3 voltas completas em torno do pote de papinha Royal Canin. Só aí comia.


Antes de término do custoso tratamento, mais um problema. Os vermes. Vermífugo resolveu. Ele cresceu. Suas orelhas, sempre em pé, caíram. Falta de cálcio.


Começou a tossir. Ela pediu um raio-X. Quando levei para que me dissesse qual o problema dele, não sabia relacionar o laudo com a chapa. Não conseguia distinguir o lado direito do esquerdo. A chapa de raio-X deu umas 5 voltas nas suas mãos e a culpa recaiu no saco de cal e na mãe dele, afinal foi ela que pariu dentro dele. Ele parou de tossir sem qualquer medicamento ou tratamento. Conseguiu crescer, ser castrado e chegar à vida adulta.
Sempre teve manias estranhas, como pular o ralo do quintal e pastorear tudo e todos. Comportamento típico de um animal com distúrbios pela mistura de raças. Chegou a 21 kg, estava bonito e saudável. Teve otohematoma por causa de uma otite, foi operado. Meses depois começou a emagrecer, foi novamente tratado para a doença do carrapato. Fez um hemograma, nenhuma célula fora do lugar. Havia um risco de doença auto-imune, comum em animais de raça e mestiços. Não sabia o que ia ser dele, com tantos altos e baixos. Eu e meus pais fazemos o impossível por ele, mas não parece ser suficiente. Comida self-service, vitaminas, cardápio especial, frutas e verduras.


 E não foi suficiente. Ele foi definhando, dia após dia. Começou a cair, não conseguia mais nos pastorear. Nos últimos meses ficou comigo em São Paulo. Adorava dormir nos pés da minha cama. Fez a viagem Tatuhy-São Paulo várias vezes. Ia quietinho no banco traseiro. A Natureza o tirou de mim. Meu companheiro fiel. Sempre ao meu lado, no quintal ou na rua, em todos os momentos. Sempre fui muito amada pelos animais, mas nenhum me amou tanto quanto ele. Poder-se-ia considerar até algo doentio. Eu vou sentir sua falta Bandit!


To be continued...

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Velhinhos do CCZ

Um gato frajola idoso, há tempos no centro de controle de zoonoses (CCZ) de São Paulo. Na famigerada carrocinha. Li sua ficha várias vezes: retirado por ordem judicial. Ele e mais uns 14 gatos, todos adotados. Exceto ele. Quero dizer, ele também foi. Eu me apaixonei por ele, mas demorei muito a chegar. Quando perguntei dele a agente abriu a porta do gatil. Ele relutou em sair de sua bacia plástica quentinha. Mas saiu e veio até a porta. Não saiu da baia, ficou na porta fazendo graça com a língua colocando-a para dentro e para fora várias vezes, enquanto tocava o particular piano felino. Cocei sua cabeça várias vezes e a espera havia terminado. Eu o adotei. Godofredo seria seu nome na breve vida que teríamos juntos. Seria injusto dizer que a Natureza o levou muito cedo. Ele viveu muito, devia ter muitas histórias pra contar. Muitas mesmo. Não queria muito, dormir na cama ao meu lado, olhando nos meus olhos quando eu acordava, estar junto dos outros gatos, uma boa comida e uma pequena volta pela casa, era suficiente para ele. Suficiente para ter um fim digno. Você vai lá e adota os que ninguém quer, se faz de durona, sabe que não viverão muito pela idade avançada, está ciente disso. Chorei tanto quando ele se foi. O destino foi injusto, por não ter cruzado nosso caminho antes, muito antes. Adeus, querido Godô.


Ironicamente não fui ao CCZ por causa dele, mas por uma gata tricolor idosa, cega e sem dentes. Sua baia era mais próxima de entrada e foi a primeira que vi. Não gostou muito de ter seu sono interrompido, ainda mais por uma estranha que quis pegá-la no colo. Ficou assustada e se enrolou escondendo a carinha no meu colo. Sua ficha dizia ter sido retirada de uma casa. Segundo os moradores desta casa, a gata caiu no quintal e não conseguia ir embora por ser cega. Confesso que essa história não cheira bem. A chance da gata ser deles e de terem inventado isso para se livrar de um animal velho e sem função é bem grande. Pra piorar ela deve ter sido muito maltratada. Tem marcas e falta um pedaço da sua boca. Os dentes teriam caído por causa da velhice ou por algum outro motivo?
A atendente, na hora de preencher os papéis da adoção, riu quando preencheu a cor no formulário. “Tartaruga, isso é cor?” Tentei em vão explicar-lhe algo sobre gatos. Insistia que eram gatos de pouco mais de dois anos, olhou-me com cara de espanto quando lhe disse que eram idosos. “Por que não adotar um filhote?” Perda de tempo explicar-lhe meus motivos. Depois riu e repetiu várias vezes que Mae era mãe sem o til. Pra finalizar contou a história da rottweiller que adotou lá da zoonoses. Eu teria ficado mais feliz se o animal não tivesse raça, como as centenas de cães lá à espera de alguém, mas fiquei feliz pelo “adotou”. Muitos outros comprariam um filhote. Nem passei perto do canil. Eu tinha perto de uma centena deles em casa. Com certeza acharia uns 3 ou 4 parecidíssimos com cada um dos meus. Pra piorar sabia que o destino ainda me pregaria algumas peças caninas. Baixei a cabeça, contive as lágrimas e fui embora com os gatos idosos.
Infelizmente era só o que podia fazer pra ajudar.
Mae escolheu uma casinha e nela se instalou. Sua deficiência visual não ajudava muito na adaptação, mas percebia que ela dava sua voltinha na casa, comia, bebia água, fazia as necessidades no lugar considerado errado por mim, mas não por ela, e retornava à caminha. Às vezes trocava de caminha, não sabia se voluntariamente ou involuntariamente, por não ter encontrado a inicial.
Apesar da idade avançada e de todos os indícios de que teria uma vida curta comigo, Mae está ótima. Cada vez mais adaptada, passeando e experimentando todas as caminhas disponíveis.


Todos criticam o CCZ de São Paulo. Eu fui lá e encontrei agentes preocupados com os animais. Encontrei gatos idosos sem chance de adoção ocupando gaiolas... Se eu não os tivesse tirado de lá, continuariam até o fim natural. Aliás, os agentes estavam preocupados que lá morressem naturalmente sem ter novamente um lar. Não é perfeito, mas não é o inferno sobre a Terra. Já visitei muitos abrigos e casas de supostos protetores que me deixaram desesperada com a situação dos animais. Pior, sem chance de sair de lá, apenas se mortos.
Quase dois anos depois desta primeira visita uma outra idosa me faria retornar ao CCZ. Nem foto dela tinha visto, só sabia que era cinza. Fiquei dias elaborando uma lista de nomes: Loretta, Corinne, Connie. Fui até lá, o caminho até o gatil estava todo enfeitado com cartazes incentivando a adoção. No canil também, frases e cartazes coloridos.
No gatil conheci a senhorinha. A veterinária chefe achou um intervalo entre as castrações para me atender. Felino, fêmea, cor predominante cinza, idade presumida 15 anos, complexo gengivite/estomatite, aplicação de depo-medrol recente. Data de entrada: 1 anos antes. Procedência: animal invasor. Local: Rua Aurora, Santa Ifigênia. Havia o nome e o celular do animal humano que fora ameaçado por ela. Vontade de ir até lá tirar satisfação! As cores da minha falecida Cookie... Connie seria seu nome. Foi retirada da gaiola pela veterinária e fez sua graça, se esticou, esfregou, ronronou e ainda ganhou carne de latinha dos agentes do CCZ. Preocupados em me convencer em adotá-la até a pentearam. Como se isso fosse preciso... Connie já morava no meu coração! Adoraram o nome que dei a ela. Fui entrevistada, paguei a taxa e toda a papelada foi preparada. Quando resolvi tudo Connie já estava na bolsa de transporte. Ao sair, um funcionário do CCZ fez questão de me parabenizar e quis saber mais detalhes dela. Com certeza muitos animais lá perderam suas vidas, mas a culpa é de quem os abandonou. A culpa é de quem escolheu por raça ou qualquer característica física. A culpa é daqueles que deixaram nascer animais por puro capricho e não adotaram os que precisavam. De que adianta protestar, gritar, espernear, criticar se você não vai lá e muda a vida de pelo menos um deles? Eu dei uma chance a Godofredo, Mae e Connie. Pouco? Sim. Mas fiz algo. Criei coragem e fui até lá verificar a realidade. Como posso pedir que outros façam algo que eu nunca fiz? Agora posso dizer a todos: eu adotei no CCZ e foi a melhor coisa que fiz! Quando tiver um espacinho sobrando farei novamente! Adotei os que ninguém queria, fiz porque mereciam um fim de vida digno. Sei que vai doer muito perdê-los tão cedo, como foi com meu querido Godô. Mesmo que seja pouco tempo nunca os esquecerei!
            Connie ficou mal humorada nos primeiros dias. Não gostou dos outros gatos. Nada que uns dias e um pouco de paciência não resolvessem. Depois de um ano numa gaiola a espera de um lar, Connie se esticou, andou por toda a casa e pelo quintal. Dormiu ao sol, passeou de noite como costumava fazer lá na Rua Aurora. Ronronou a cada agrado.


Connie Aurora Ifigênia, que a Natureza permita que você me acompanhe por muito tempo!

domingo, 4 de setembro de 2011

Alley

Eu não sabia, mas acabaria ficando com um bichinho de cada local que ajudei. Começou com o Alley... Morava num terreno imundo com uma mulher miserável que ganhava algum dinheiro como “lar temporário”. É muito difícil conseguir lidar com essas pessoas, então aquele lugar se transformou num verdadeiro depósito de animais e as pessoas sérias que queriam ajudar não davam conta dos animais e das doenças que proliferavam pela falta de higiene e cuidados. Foi uma luta...


 Ele era aleijado, deve ter sido atropelado e a pata ficou torta por não ter sido socorrido. Sua história é incerta, já que a tal mulher era, além de suja, mentirosa. Vivia preso numa corrente, lembro de ir lá ajudar a dar comida e um pouco de atenção pros coitados que lá “viviam” e ele puxar o chaveiro do meu bolso. Um dia eu insisti e o levei pra casa, magro, com giárdia, pavor de vassouras... Ficou imenso, parecia uma mesa de centro! Mesmo assim não arriscava e dormia ao lado do comedouro, traumas de quem já passou muita fome...


Alley viveu sua vida e um linfoma foi o responsável pelo seu fim. Na verdade, a boa morte teve que nos visitar mais uma vez quando Alley não quis mais comer. Ele, o fominha, que dormia ao lado dos comedouros e os mastigava quando não estava comendo para evitar que outros cães se aproximassem e roubassem sua comida, não queria comer? Sabia que era o fim e não podia deixá-lo sofrer.
Certos dias, no meio da latição, tenho a impressão de ouvir o seu latido, mas quando me viro para pedir que pare de latir, ele não está lá. Saudades do meu Alleychato...

terça-feira, 14 de junho de 2011

Skipmóvel

Meu brinde de terceiro mutirão de castração. Aliás, esse mutirão rendeu! Dele veio a Summer também. Ele veio seguindo uma senhora que estava levando alguns animais pra castrar. Sem coleira ou guia, chegou chegando, correu de um lado pro outro na escola, latiu pros cães e pros gatos que aguardavam o momento da “mutilação”! Como naquele dia o mutirão era da prefeitura pedi uma vaga para ele, afinal vivia solto pela cidade e perpetuando a espécie. Consegui e colocamos nele a ficha com o número pra ser chamado pra pesagem e pré-anestesia. Ficou o tempo todo lá na escola, sumiu minutos antes do seu número ser chamado. Paciência... Depois do almoço, quem chega chegando? Ele! Sem a ficha no pescoço, claro. Dessa vez fui mais esperta que ele e o tranquei em uma sala. Finalmente foi castrado. Acordou da anestesia, comeu o que sobrou do almoço e no fim da tarde, já bem acordado, seguiu seu caminho. No dia seguinte, quase no fim da tarde do último dia de mutirão quem chega chegando? Ele! Ficou por lá, disse oi pra todos, inclusive pro veterinário que arrancou suas bolas! Fim de mutirão, todos guardando as coisas, arrumando a escola, limpando e ele lá esperando. Os vets e voluntários vão embora, eu, minha mãe e algumas protetoras da cidade estávamos terminando de organizar tudo. Ele sentado na calçada observando a movimentação e as pessoas indo embora, sempre olhando com cara de coitado: "Vocês vão me deixar aqui? Já fui castrado, posso ser adotado!". Não pensem que não tenho coração, ir embora e deixar o pobre animal lá, sem casa, sozinho, à mercê de todo tipo de crueldade! Se eu pudesse pegaria todos, mas não posso! Enfim, ia ser a última a entrar no carro e fui surpreendida antes que eu pudesse fazer qualquer coisa. Como ninguém se manifestou ele mesmo resolveu a situação: não foi adotado, me adotou! Entrou no carro correndo e se instalou como co-piloto. Tudo bem, pensei em deixa-lo dar uma volta de carro, logo ele desiste e segue o seu caminho. Paramos mais a frente e ele desceu do carro. Fui embora, minha mãe me seguindo no outro carro. Ele gostou do passeio. Saiu correndo atrás do meu carro. Parei e o deixei entrar novamente. Uns quarteirões pra frente eu o deixei sair de novo. Fechei a porta e fui indo embora. Mesmo com pouquíssimos carros na rua ele quase foi atropelado. Nesse momento, eu não sabia, mas minha mãe já estava gritando no carro pra eu pegá-lo logo! Eu tentei, mas não consegui. Parei e abri de novo a porta. Ele saltou no meu colo e fomos pra casa dos meus pais, ele no meu colo, quase dirigindo no meu lugar. Fui chorando, me perguntando porque isso sempre acontece comigo. Acho que nunca vou entender o porquê. Mãe, pai: dessa vez EU não tive culpa!!! Agora ele é o meu cachorro SKIP e eu sou sua dona CRIS.

 Skip é o co-piloto oficial. É quase impossível sair de casa sem ele. As compras dominicias feitas pelo meu pai sempre envolvem um carro e o Skip. Não importa qual carro. Cor, modelo, acessórios, nada disso importa. Ele só quer andar de carro. E sabe que é domingo, dia das compras, mesmo ser ter um calendário.


Situações inusitadas ocorreram por causa dele. Quem não se diverte com a cena de um cão descabelado no banco do motorista? Como diz meu pai: "se deixar a chave corro o risco de ele ir embora dirigindo". Uma vez, meu pai parou o carro numa praça no centro da cidade. Dois senhores tomavam sol e conversavam num banco, aquela coisa boa de se viver no interior. Skip estava apertado, precisava fazer xixi! Meu pai abriu a porta, ele correu até uma árvore, fez um xixi enorme e voltou correndo para dentro do carro. Os dois senhores se divertiram com a cena...

Essa mania de ficar no carro já o colocou em situações difíceis. Quantas vezes horas depois de chegar em casa alguém pergunta: cadê o Skip? Resposta: no carro! E vocês acham que ele está lá enlouquecido, desesperado para sair? Que nada, dorme horas e horas no conforto do banco.


Dias de chuva também são complicados. A terra vermelha de Tatuhy não ajuda, assim para evitar que os bancos do carro fiquem cheios de lama meu pai desenvolveu um verdadeiro ritual para limpar as patas do Skip. Antes de abrir a porta do carro ocorre uma dança, Skip rodopia de felicidade e acaba limpando suas patas no chão antes de entrar no carro. E na hora de sair do carro? Só pela porta traseira, nunca pela dianteira. Afinal, cães da alta sociedade canina com privilégios precisam de, no mínimo, um motorista particular!