terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Homer, Bomer, Homerless

Homer morreu de velhice. Morreu velho mesmo. Viveu bastante. Comigo apenas 6 anos, já era velho quando nos encontramos. Foi um dos primeiros moradores do terreno que comprei apenas para colocar cachorros.
            Homer foi recolhido das ruas por uma veterinária. Minutos depois do ato de bondade ela começou a perceber a enorme besteira que tinha feito. Ele era feio, velho, sem graça. Adoção? Quase impossível. Homer foi parar no mesmo terreno em que Alley e muitos outros cães viviam. Local em que deixei Lisa, Lara e seus filhotes quando fiz meu primeiro resgate-família. Eu o vi num canil de quinta categoria construído com os restos dos restos. Foi amor a primeira vista. Eu me apaixonei por ele, mesmo ele sendo feio e tendo a boca um pouco torta. Coisas do coração não se explicam racionalmente...
A tal veterinária já cogitava uma eutanásia para resolver o problema que havia criado. Quando disse que ficaria com ela logo foi agradecendo ao seu deus pela graça alcançada. Eutanasiar um cão saudável não é algo que o tal deus gostaria. Antes de sair de lá Homer foi castrado e sofreu mais de 15 dias com tal procedimento cirúrgico. Essa veterinária tinha lá algumas qualidades, mas castração de machos não era o seu forte. Lógico que a culpa era sempre dos cães que eram terríveis, lambiam o saco, arrancavam os pontos e tal.
            Homer teria dificuldades em morar numa casa com quintal. Perdia muito pêlo, mas muito mesmo. Foi assim durante os 6 anos que viveu conosco. Nos primeiros anos era um macho dominante, deve ter sido um terror quando jovem. Logo que Argos, o akita, chegou colocou-o para correr. Quinze dias depois Argos se vingou e após uma luta e tanto Homer levou a pior. Tinha início a era das divisões. Cercas, alambrados e canis foram feitos para todos os lados e formaram-se várias matilhas cada uma com seu grande líder, um macho e suas fêmeas. Homer era um, Argos outro.
            Um dia, Homer, que sempre controlava muito bem a situação de sua casa-canil, escolhida por ele, estava do lado de fora, sem acesso à comida e dormindo numa casa de madeira. Não entrava mais de jeito algum naquela casa. Homer era agora Homerless. Não era mais o líder da matilha e sua casa agora era habitada por vários cães mais jovens, fortes e bonitos que ele. Coisas da Natureza, que não é boazinha. Homer nunca quis ficar na casa dos meus pais, a apenas uma quadra de distância. Lembro-me que tentamos adaptá-lo lá e na primeira oportunidade ele escapou e foi direto pro portão do terreno. Aquele era seu lar. Só que agora ele não tinha mais opção a não ser esperar a morte. Nós o levamos para a casa no outro quarteirão. Desta vez ele gostou. Sabia que não podia mais voltar pra sua casa. Escolheu uma casa de madeira num canto escondido e lá ficava dormindo quase 24h por dia. Saia para fazer suas necessidades, não muito longe claro, dava umas latidas pra parede, comia, bebia água e retornava. Meu pai falava que ele latia pra Alá, sempre no mesmo horário e pro mesmo lado. E assim Homer, ou Bomer, como meu pai o chamava, viveu seus últimos dias até que a Natureza decidisse que era o fim.

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