Homer foi recolhido das ruas por uma veterinária. Minutos depois do ato de bondade ela começou a perceber a enorme besteira que tinha feito. Ele era feio, velho, sem graça. Adoção? Quase impossível. Homer foi parar no mesmo terreno

A tal veterinária já cogitava uma eutanásia para resolver o problema que havia criado. Quando disse que ficaria com ela logo foi agradecendo ao seu deus pela graça alcançada. Eutanasiar um cão saudável não é algo que o tal deus gostaria. Antes de sair de lá Homer foi castrado e sofreu mais de 15 dias com tal procedimento cirúrgico. Essa veterinária tinha lá algumas qualidades, mas castração de machos não era o seu forte. Lógico que a culpa era sempre dos cães que eram terríveis, lambiam o saco, arrancavam os pontos e tal.
Homer teria dificuldades em morar numa casa com quintal. Perdia muito pêlo, mas muito mesmo. Foi assim durante os 6 anos que viveu conosco. Nos primeiros anos era um macho dominante, deve ter sido um terror quando jovem. Logo que Argos, o akita, chegou colocou-o para correr. Quinze dias depois Argos se vingou e após uma luta e tanto Homer levou a pior. Tinha início a era das divisões. Cercas, alambrados e canis foram feitos para todos os lados e formaram-se várias matilhas cada uma com seu grande líder, um macho e suas fêmeas. Homer era um, Argos outro.
Um dia, Homer, que sempre controlava muito bem a situação de sua casa-canil, escolhida por ele, estava do lado de fora, sem acesso à comida e dormindo numa casa de madeira. Não entrava mais de jeito algum naquela casa. Homer era agora Homerless. Não era mais o líder da matilha e sua casa agora era habitada por vários cães mais jovens, fortes e bonitos que ele. Coisas da Natureza, que não é boazinha. Homer nunca quis ficar na casa dos meus pais, a apenas uma quadra de distância. Lembro-me que tentamos adaptá-lo lá e na primeira oportunidade ele escapou e foi direto pro portão do terreno. Aquele era seu lar. Só que agora ele não tinha mais opção a não ser esperar a morte. Nós o levamos para a casa no outro quarteirão. Desta vez ele gostou. Sabia que não podia mais voltar pra sua casa. Escolheu uma casa de madeira num canto escondido e lá ficava dormindo quase 24h por dia. Saia para fazer suas necessidades, não muito longe claro, dava umas latidas pra parede, comia, bebia água e retornava. Meu pai falava que ele latia pra Alá, sempre no mesmo horário e pro mesmo lado. E assim Homer, ou Bomer, como meu pai o chamava, viveu seus últimos dias até que a Natureza decidisse que era o fim.
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