quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Ruffus Ralf

O pedófilo novamente... Depois de sua prisão seus cães ficaram soltos no bairro. Comentaram que uma boa cristã, responsável pela manutenção dos cães dele, de vez em quando levava uns pães e bolachas velhos pra alimentá-los. É impressionante como as pessoas são boas. Eu sempre fico admirada – não no bom sentido – com estas atitudes. O destino dos demais é desconhecido. Sei que este foi visto pela minha mãe e tia, que tentaram passar remédio em sua orelha. E sumiu. Eu passei a semana trabalhando em SP em agonia. Onde estará este cão? Uma bicheira na orelha? Tudo que eu queria era limpá-la e salvá-lo. Meu desejo foi atendido. Sábado de manhã, eu estava a meia hora de Tatuí e ele apareceu. Dentro do tubo de escoamento de água da ex-casa da minha tia, vizinha aos meus pais e que eu havia recentemente adquirido para meus gatos. No meu tubo ele apareceu. Um trapo, magro, sujo, espalhando larvas por todo lado ao balançar a cabeça. As larvas comeram grande parte de sua cabeça. O cheiro era insuportável, de podre.


Ele tinha fome, comeu ração seca e carne de latinha. Havia esperança. Fui direto pra agropecuária e comprei os remédios. Eu não podia gastar mais dinheiro. Não tinha. Depois de todos os gastos com o Scott, Magoo, Tess e todos os outros! Também não podia abandonar o pobre cão e deixar as larvas terminarem o banquete. Completamente falida e com todos os remédios necessários iniciei o processo de remoção manual das larvas. Não tinha fim, a pinça ia bem fundo e voltava cheia deles. Eu fazia umas pausas, o cheiro era insuportável e a cena nada agradável. Quando voltava encontrava várias larvas em volta dele. E vazava um líquido, fazia até “splosh” quando se apertava as regiões próximas à bicheira. Algumas horas depois, um banho se fez necessário. Foi bem difícil ficar com ele dentro do banheiro com a porta fechada. Se não houvesse uma platéia desesperada por notícias do lado de fora teria sido bem mais fácil. Mas meus cães são leitores assíduos de “Faros”, a versão canina de “Caras”, e eles sabem que eu sempre trago quentinhas de primeira.


Após o banho ele ganhou uma caixa de papelão de coquinho, o biscoito mais consumido em Tatuí por causa dos meus cães, o substituto de Biscrok, racionado em tempos de vacas magras. E dormiu protegido, aquecido, medicado e minimamente limpo. Eu passei o dia ingerindo a deliciosa solução aquosa de ácido fosfórico, que os não-químicos chamam de Coca-Cola. Depois de tantas larvas não conseguia comer.


Tinha quase certeza que ele não aguentaria. Já estava conformada que era melhor morrer aquecido e não num tubo ou jogado à míngua. Mas ele aguentou. As larvas se foram e o Furanil com açúcar fez o seu papel. Em uma semana o buraco era mínimo. Ele se lembrou de mim, mesmo sem ter me visto durante esta semana. Pulou, chorou, grudou em mim como se fosse meu desde filhote. Mais uma semana e não havia mais buraco! Só existia uma anemia absurda. A gengiva dele estava combinando com seu pêlo branco. Só pode ser doença do carrapato. Eu mesma tomei a liberdade de medicá-lo. Mais uma pequena fortuna deixada na farmácia. Um mês depois ele tinha pêlos em sua cabeça novamente e uma gengiva corada! De início seu nome era Goiabão, muito adequado, é certo, mas de extremo mau gosto. Goiabão foi substituído por Ruffus. Ruffus é um Frodão, primo da minha querida Frida. Seu olhar expressivo me traz lembranças dela, mas não mata as saudades que sinto. Ruffus me enche de amor e gratidão, como só os cães sabem fazer. E, como disse meu pai: de todos os seus cães, ele é o mais legal. Ele tem razão.
Sei que algumas pessoas do bairro perguntaram dele. Queriam saber o destino do cão do suposto pedófilo. A Bete fez a parte dela, disse “deve ter morrido por aí, coitado”. Sempre tive medo que o dono retornasse e o quisesse de volta. Eu não queria devolvê-lo! Um dia ouvimos alguns comentários. Ruffus chamava-se Ralf e seu dono, após ter saído da cadeia, foi morar em São Paulo e se enforcou. Nunca o procurou, nem voltou para saber dele. Sorte minha.

2 comentários:

  1. É visível a diferença no "antes e depois" do cãozinho, parece que ele participou daqueles programas de dão um trato no visual, mas esse olhar de amor e gratidão é incomparável.
    Parabéns Cris, força sempre!!!

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  2. 4 anos depois de seu post, estou em uma situação parecida, eu e minha esposa estamos cuidando do cachorro da avó dela, que tem problemas de saúde, e em um final de semana nos ligou pedindo para olhar o cachorro, quando chegamos vimos o rabo dele todo comido e com um forte cheiro, passado quase um mês e um mau tratamento de uma clinica veterinária aqui em Ribeirão Preto, PIngo, depois de ter pegado uma anemia profunda, doença do carrapato, e ter feito transfusão de sangue.... estamos tratando as coxas dele com furanil e açúcar, (no qual está ficando rosada), creio que está dando certo. De vez em quando bate um desespero por causa das dores dele mas encontramos uma clinica aqui muito boa que apesar de ser cara, estamos levando lá mesmo só nestes momentos para acompanhamento. Mas tenho fé em Deus que daqui uma semana ele estará MUITO melhor....

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