segunda-feira, 9 de julho de 2012

Bandit, Fly e as Batatas

Assim como Babi e Murray, os borders-lata foram uma herança e tanto. Eu tentei. Fiz o possível para ensinar algo a uma pseudo-veterinária. Infelizmente, é mais fácil usar o trabalho alheio para se promover a ter que trabalhar duro. Foi isso que ela fez, usou os mutirões pra se promover. Dizia fazer as cirurgias, mas sequer chegou perto de uma lâmina de bisturi. Boas intenções não te transformam em protetor de animais, muito menos em médico veterinário. Uma faculdade também não, é muito mais que isso. No caso do Murray e da Babi, que eram de rua, posso até entender. Nos outros não. Vender animais de raça pra sustentar os outros é hipocrisia. Nem sei como classificar o ato de vender uns, dizer que sustenta os menos afortunados que na verdade morrem de fome, presos em canis e gatis imundos sem chance de escolha. Pior ainda é trocá-los por TVs e aparelhos de celular. Teriam os viras direito ao uso destes aparelhos? Bandit teria morrido, como praticamente todos os seus irmãos. Ele nasceu de uma escapadinha de cães de raça: é um vira-lata cujo pai era Blue Heeler e a mãe Border Collie. Bom, isso é o que diziam, pois alguns viras do canil tinham pedigree. Um papel que contém dados de responsabilidade do criador. Sem averiguação? Se for assim eu crio raças pra todos os meus!
Bandit e seus irmãos nasceram num saco de cal. Foi o único lugar que sua mãe encontrou e considerou seguro para aguardar a chegada dos seus filhos. Depois de nascidos a situação não melhorou muito. Viviam na sujeira. Um a um foram morrendo. Eu quis ficar com ele, sabia que não viveria se eu não o fizesse. Ele tinha 40 dias e ela dizia que ele era débil. Lerdo, alheio a tudo. Era um filhote estranho. Ele foi pra São Paulo no colo da minha mãe. O cheiro era insuportável. Urina e fezes. Assim que chegamos ele precisou de um processo de limpeza. O pêlo escondia a magreza. Era pele e osso. Tinha febre, altíssima. Pedi que me orientasse quanto ao que fazer. Receitou penicilinas. Quase 80 anos depois da brilhante descoberta de Alexander Fleming o mundo conhece inúmeros antibióticos, para as mais diferentes infecções. A que Bandit tinha não era suscetível a penicilinas. É lógico que ele não melhorava e os microorganismos que o parasitavam faziam a festa. Febre, anemia e carrapatos. Não é preciso muito para fechar um diagnóstico. Outro veterinário o fez.


Bandit não era débil, estava anêmico, quase não tinha mais sangue. Nem 45 dias de vida, febril, anêmico, vivendo na sujeira e tomado pelos carrapatos. Não bastasse isso ainda o chamava de débil e ria de seu comportamento. Felizmente, a doxiciclina salvou sua vida. Prescrita por outro veterinário. Bandit dava 3 voltas completas em torno do pote de papinha Royal Canin. Só aí comia.


Antes de término do custoso tratamento, mais um problema. Os vermes. Vermífugo resolveu. Ele cresceu. Suas orelhas, sempre em pé, caíram. Falta de cálcio.


Começou a tossir. Ela pediu um raio-X. Quando levei para que me dissesse qual o problema dele, não sabia relacionar o laudo com a chapa. Não conseguia distinguir o lado direito do esquerdo. A chapa de raio-X deu umas 5 voltas nas suas mãos e a culpa recaiu no saco de cal e na mãe dele, afinal foi ela que pariu dentro dele. Ele parou de tossir sem qualquer medicamento ou tratamento. Conseguiu crescer, ser castrado e chegar à vida adulta.
Sempre teve manias estranhas, como pular o ralo do quintal e pastorear tudo e todos. Comportamento típico de um animal com distúrbios pela mistura de raças. Chegou a 21 kg, estava bonito e saudável. Teve otohematoma por causa de uma otite, foi operado. Meses depois começou a emagrecer, foi novamente tratado para a doença do carrapato. Fez um hemograma, nenhuma célula fora do lugar. Havia um risco de doença auto-imune, comum em animais de raça e mestiços. Não sabia o que ia ser dele, com tantos altos e baixos. Eu e meus pais fazemos o impossível por ele, mas não parece ser suficiente. Comida self-service, vitaminas, cardápio especial, frutas e verduras.


 E não foi suficiente. Ele foi definhando, dia após dia. Começou a cair, não conseguia mais nos pastorear. Nos últimos meses ficou comigo em São Paulo. Adorava dormir nos pés da minha cama. Fez a viagem Tatuhy-São Paulo várias vezes. Ia quietinho no banco traseiro. A Natureza o tirou de mim. Meu companheiro fiel. Sempre ao meu lado, no quintal ou na rua, em todos os momentos. Sempre fui muito amada pelos animais, mas nenhum me amou tanto quanto ele. Poder-se-ia considerar até algo doentio. Eu vou sentir sua falta Bandit!


To be continued...